Histórias das Cruzadas

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Guilherme de Tiro

Guilherme de Tiro

Guilherme de Tiro nasceu em Jerusalém, por volta do ano 1130; começou a ser educado na escola do Santo Sepulcro, instituição que visava instruir jovens que pretendiam seguir carreira eclesiástica. Presume-se que na adolescência Guilherme já havia aprendido o idioma árabe e grego, além do latim. Prestes a completar dezesseis anos de idade viajou para a Europa com intuito de prosseguir com seus estudos. Em Orleans cursou Artes Liberais; em Paris aprofundou-se nos aprendizados teológicos. Fora, então, para Bolonha, à época um renomado centro de estudos jurídicos, onde recebeu instrução em Direito.
Devido ao longo período que permaneceu em solo europeu, cerca de 15 anos, é possível que precocemente já havia começado a exercer funções sacerdotais em alguma das cidades em que estivera, pois assim que regressa ao Oriente, por volta de 1160, torna-se cônego em Acre e arcediago em Tiro. Sua formação intelectual o credenciaria para ascender na hierarquia da Igreja e também a ocupar cargos na administração do Estado; em 1170 fora nomeado chanceler do Reino de Jerusalém pelo rei Amalrico, função que exerceu até 1174. Outra incumbência delegada ao clérigo foi cuidar da educação do filho do monarca; Guilherme se tornou tutor da criança que mais tarde se tornaria Balduíno IV, o Rei Leproso. Foi nosso cronista, inclusive, a descobrir que o príncipe havia contraído lepra, uma das doenças mais temidas na Idade Média. Em 1175 Guilherme tornou-se Arcebispo de Tiro.
Dentre os trabalhos diplomáticos, sabe-se que Amalrico enviou uma embaixada liderada por Guilherme de Tiro à Constantinopla com a finalidade de solicitar o apoio do Imperador bizantino, Manuel Comneno, para uma ação conjunta contra o Egito. Foi recebido com cortesia e firmou um acordo com Manuel no qual estabeleceram as divisões de uma eventual conquista; entretanto, quando Guilherme regressou a Jerusalém Amauri já havia levado seu exército em direção ao Cairo, antes mesmo de saber a resposta do Imperador.
Nota-se algumas diferenças entre o Arcebispo de Tiro e outros autores das cruzadas; os cronistas cristãos eram sujeitos nascidos no Ocidente que se dirigiam à Síria e Palestina como integrantes dos séquitos de nobres senhores europeus. No início do movimento cruzadista até a tomada de Jerusalém, os cristãos tinham o hábito de destruir todos os livros e demais manuscritos muçulmanos encontrados, pois consideravam como algo diabólico os caracteres árabes. Os textos de Guilherme apresentam a perspectiva de um indivíduo inserido na cultura oriental, inclusive fez uso de fontes árabes para construir sua narrativa, além dos fatos que pôde presenciar e relatos obtidos junto aos primeiros cruzados. Por estar próximo dos acontecimentos, Régine Pernoud o considera como o melhor dos historiadores das cruzadas; Steven Runciman acrescenta que este ierosomilitano é um dos maiores historiadores de todo o período medieval; Christopher Tyerman define Guilherme de Tiro como o historiador dos historiadores. Por solicitação de Amalrico, o Arcebispo também elaborou uma série de crônicas que expunham a história do Oriente desde o tempo do Profeta Maomé até meados do XII, contudo, infelizmente, essa obra se perdeu no tempo.
No momento em que compilou sua obra acerca das cruzadas, intituladas Historia rerum in partibus transmarinis gestarum, o próprio Guilherme de Tiro menciona que as crônicas abrangiam até o ano de 1184 e manifesta o desejo de continuar a escrevê-las enquanto a vida lhe permitisse. Por opção própria ou por motivos de força maior deixou de desempenhar o ofício que exerceu com muito apreço, competência e imensa erudição. Sua narrativa encerra-se quando o cronista abordava sobre os momentos ainda, de certa forma, estáveis da gestão de Balduíno IV. O Arcebispo de Tiro faleceu em Roma, por volta de 1186.

Referências:

A Mulher nos Tempos das Cruzadas – Régine Pernoud
Historia de las Cruzadas – Hans Eberhard Mayer
Historias de Ultramar – Guillermo de Tiro
História das Cruzadas, Volumes I e II – Steven Runciman
Uma Nova História das Cruzadas – Christopher Tyerman

Imagem:
Manuel Conmeno e os mensageiros de Amauri (séc. XIII). Biblioteca Nacional da França

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