Histórias das Cruzadas

quarta-feira, 23 de março de 2016

Personagens das Cruzadas: Balian de Ibelin.

Por causa do personagem interpretado pelo ator Orlando Bloon no filme "Kingdom of Heaven", de Ridley Scott, algumas pessoas nos perguntam, por mensagens, a respeito de Balian de Ibelin. A dúvida é se esse indivíduo realmente existiu.

Sim, Balian de Ibelin existiu; fez parte de uma geração que nascera no Outremer descendendo dos primeiros cruzados que partiram da Europa para reconquistar Jerusalém. Fora casado com Maria Conmeno, viúva do rei Amauri.

Balian estava adaptado aos costumes locais, tinha boas relações com os árabes, com quem realizava transações comerciais. Mantinha posição favorável a manutenção de acordos de paz com os muçulmanos, diferentemente dos cristãos recém chegados da Europa, que propunham ofensivas militares contra os maometanos.

Quando o então rei, Guy de Lousignan, propôs que as tropas cristãs fossem ao encontro de um numeroso exército muçulmano, Balian foi um dos que se opuseram, alegando que as condições eram demasiadamente adversas e que o mais prudente seria concentrar esforços na defesa da Cidade Santa. Seguindo orientações, principalmente, de Reinaldo de Chantillon e Gerardo de Ridefort, o monarca ignorou a proposta de Balian de Ibelin. As hostes cristãs marchariam para a morte. Fatigado pela longa caminhada sob sol escaldante, faminto e sedento, o exército cruzado se tornou presa fácil e foi dizimado. Balian conseguiu sobreviver ao massacre e refugiou-se na cidade de Tiro.

O caminho estava aberto para Saladino tomar Jerusalém, a cidade perdera quase que a totalidade de seus defensores na desastrosa campanha de Hattin, com a falta de cavaleiros o patriarca Heráclio é quem organizava a defesa. A queda era questão de tempo.

Sabendo que Saladino marchava para Jerusalém, Balian pedira permissão ao próprio sultão para que pudesse entrar na cidade e salvar sua esposa e filhos, Saladino consentiu, com a condição de que o Barão não pegasse em armas, imposição essa que foi aceita prontamente.

Ao entrar na cidade, Balian ouviu súplicas do povo para que ficasse e liderasse a resistência, o Barão de Ibelin atendeu aos apelos e decidiu ficar; entretanto, havia a promessa feita ao líder islâmico. O nobre Balian enviou uma carta a Saladino, pedindo que o sultão o liberasse do juramento de não lutar contra os muçulmanos; Saladino, então, liberou Balian de seu voto e ainda deu salvo-conduto para que sua família deixasse Jerusalém em segurança. Esse gesto sempre é lembrado, com louvor, tanto por cronistas árabes como pelos cristãos.

Com poucos cavaleiros à sua disposição Balian fez o que pode para defender a cidade, mas diante da disparidade numérica, o desfecho que os sitiados poderiam esperar seria uma morte pouco dolorosa ou, quem sabe, algum tratado que poupasse suas vidas.

Balian de Ibelin tentou alguns acordos para a rendição, que prontamente eram refutados. A intenção de Saladino era tomar a cidade à força, sem misericórdia, assim como fizeram os cruzados, comandados por Godofredo, Raimundo, Tancredo, Roberto de Flandres e Roberto da Normandia, dentre outros, em 1099.

Observando a intransigência do sultão, Balian fez um ultimato intimidador a Saladino: ou se chegaria a um termo de rendição ou os sitiados venderiam caro a derrota. Balian de Ibelin ameaçou destruir os locais sagrados para o islã em Jerusalém, a começar pelo Domo da Rocha; advertiu que os milhares de muçulmanos que ainda se encontravam na cidade seriam mortos e o que sobraria para os maometanos seriam apenas as ruínas da Cidade Santa. Saladino cedeu e um acordo foi selado, poupando milhares de vidas. Pelo tratado, Jerusalém seria entregue ao sultão e os cristãos poderiam deixar a cidade mediante ao pagamento de um resgate; os que não tinham recursos, se tornariam escravos.

Nem todos possuíam meios para pagar pela própria liberdade. Balian e o patriarca Heráclio começaram a arrecadar fundos para saldar o resgate do maior número possível de pessoas. Várias coletas eram realizadas pela cidade, recorreu-se também a uma enorme quantia pertencente aos Hospitalários, dinheiro esse proveniente das doações de Henrique II, como penitência pelo assassinato de Thomas Becket. O Barão de Ibelin utilizou-se de seus próprios bens para pagar o resgate de inúmeros cristãos. Balian e Heráclio se ofereceram como reféns para que mais pessoas pudessem ser libertadas, proposta essa não aceita por Saladino.
Estima-se que aproximadamente 20 mil cristãos conseguiram deixar Jerusalém.

Vemos que o Barão Ibelin teve atitudes tão nobres quanto as do Sultão do Egito e Síria, porém na história, que costuma exaltar apenas os vencedores, Balian é mencionado quase sempre como um coadjuvante na biografia de Saladino.

Acredita-se que Balian tenha continuado sua vida na Terra Santa, onde teria falecido em 1193, com aproximadamente cinquenta anos de idade.





Referências:

MONTEFIORE, Simon Sebag. Jerusalém: A biografia. Tradução de Berilo Vargas e George Schlesinger. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 321-323.

RESTON JR, James. Guerreiros de Deus: Ricardo Coração de Leão e Saladino na Terceira Cruzada. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Imago, 2002. p. 93-95.

RUNCIMAN, Steven. História das Cruzadas, Vol II: O Reino de Jerusalém e o Oriente Franco. Tradução de Cristiana de Assis Serra. Rio de Janeiro: Imago, 2002. p. 397-4002.




domingo, 6 de março de 2016

Mensagem de Ricardo Coração para o sultão Saladino.

Mensagem de Ricardo Coração para o sultão Saladino.Com problemas internos na Inglaterra causados, principalmente, pela inaptidão de João-Sem-Terra em conduzir o Reino na ausência de seu irmão, Ricardo recebia constantemente notícias de que seu território estava em perigo, por causa disso, o Coração de Leão tentava uma solução para encerrar a expedição e poder regressar à sua Inglaterra, sem comprometer o objetivo principal da Cruzada.
Abaixo, uma mensagem do Rei Ricardo Coração de Leão ao sultão Saladino, descrita pelo cronista árabe Bahaeddin:
“Os nossos estão mortos, o País está em Ruínas e o negócio nos escapou completamente, a nós todos. Não pensais que isto basta? No que nos concerne, há apenas três causas de discórdia: Jerusalém, a verdadeira cruz e o território.
No que diz respeito a Jerusalém, é nosso local de culto e jamais aceitaremos renunciar a ele, mesmo que tenhamos que combater até o fim. Quanto ao território, gostaríamos que nos fosse dado o que está a oeste do Jordão. Com relação à cruz, ela representa para vós apenas um pedaço de madeira, ao passo que para nós seu valor é inestimável. Que o sultão no-la dê, e que se ponha fim a esta luta extenuante.”

Fonte: Maria Guadalupe Pedrero-Sánchez. História da Idade Média: Textos e testemunhas. São Paulo: Editora Unesp, 2000.

Deus lo Vult!


Deus lo vult! é a versão latina do “Dieu le veut!” francês, que significa “Deus o quer!” e que foi o grito dado pelos soldados franceses em resposta à convocação das Cruzadas feita pelo Papa, brado que se tornou daí em diante o grito de guerra dos cruzados.
Vez por outra alguém interpela dizendo que a expressão no latim clássico é “DEUS VULT”, e não “DEUS LO VULT”. Acontece que o povo medieval não sabia latim clássico e, por isso, no latim vulgar e “errado” deles, gritavam “Deus lo Vult!” mesmo. Aliás, pensamos que historicamente a expressão que se consolidou foi “Deus lo Vult!”, e não “Deus Vult!”, sendo esta última mais uma reconstrução acadêmica posterior do que o brado histórico que os cruzados deram no final do século XI. Inclusive o brasão da Ordo Equestris Sancti Sepulcri Hierosolymitani (ordem de cavalaria cujas origens remetem a Godofredo de Bulhão e, portanto, à Primeira Cruzada) traz “Deus lo Vult” até hoje, como pode ser visto abaixo.



FERRAZ, Jorge. DEUS LO VULT. disponível em: <http://www.deuslovult.org/about/>. 

"O primeiro olhar foi de horror”.

“Já havia muito tempo que essas duas irmãs, essas duas metades da humanidade, a Europa e a Ásia, a religião cristã e a muçulmana, tinham-se perdido de vista, quando foram postas face a face pela Cruzada e olharam uma para a outra. O primeiro olhar foi de horror”.
(Jules Michelet, Histoire de France)
Abaixo: Ilustração de uma batalha entre cristãos e muçulmanos.
Autor desconhecido.


Alguns mitos sobre as Cruzadas.


Por Thomas F. Madden*

Muitas pessoas, no Oriente e no Ocidente, consideram as Cruzadas uma mancha negra na História da Civilização Ocidental em geral, e da Igreja Católica em particular. Citadas por ambas as partes no conflito entre os Estados Unidos e os terroristas árabes, as Cruzadas voltaram aos noticiários, aos filmes e às séries de televisão. Propalam-se velhos mitos e reacendem-se discussões. Um bom exame da História das Cruzadas é, portanto, indispensável
Mas afinal, qual é a verdadeira história das Cruzadas? Como o leitor pode imaginar, trata se de uma longa história. Mas existem muitos bons historiadores que ao longo dos últimos vinte anos vêm colocando as coisas no seu devido lugar. Por agora, tendo em vista o bombardeio que as Cruzadas vêm recebendo atualmente, o melhor será esclarecer justamente o que as Cruzadas não foram. Enumeramos a seguir alguns dos mitos mais comuns, dizendo por que eles são falsos.
MITO Nº 1: AS CRUZADAS FORAM GUERRAS CONTRA UM PACÍFICO MUNDO MUÇULMANO QUE NADA FIZERA CONTRA O OCIDENTE.
Não há nada de mais falso. Desde os tempos de Maomé, os muçulmanos lançaram-se à conquista do mundo cristão. E fizeram um ótimo trabalho: após poucos séculos de incessantes conquistas, os exércitos muçulmanos tomaram todo o norte da África, o Oriente Médio, a Ásia Menor e a maior parte da Península Ibérica. Em outras palavras: ao findar o século XI, as forças islâmicas já haviam capturado dois terços do mundo cristão. A Palestina, terra de Jesus Cristo; o Egito, berço do monaquismo cristão; a Ásia Menor, onde São Paulo estabeleceu as primeiras comunidades cristãs. Não conquistaram a periferia da Cristandade, mas o seu núcleo. E os impérios muçulmanos não pararam por aí: continuaram pressionando pelo leste em direção a Constantinopla, até que finalmente a tomaram e invadiram a própria Europa.
Se uma agressão não-provocada existiu, foi a muçulmana. Chegou-se a um ponto em que só restava à Cristandade defender-se ou simplesmente sucumbir à conquista muçulmana. A Primeira Cruzada foi convocada pelo Papa Urbano II em 1095 para atender aos apelos urgentes do Imperador bizantino de Constantinopla, Aleixo I Comneno (1081-1118). Urbano convocou os cavaleiros cristãos para irem em socorro dos seus irmãos do Leste. Foi uma obra de misericórdia: livrar os cristãos do Oriente de seus conquistadores muçulmanos. Em outras palavras, as Cruzadas foram desde o início uma guerra defensiva. Toda a história das Cruzadas do Ocidente foi a história de uma resposta à agressão muçulmana.
MITO Nº 2: OS CRUZADOS TRAZIAM O SÍMBOLO DA CRUZ, MAS O QUE REALMENTE QUERIAM ERAM AS PILHAGENS E AS TERRAS. AS INTENÇÕES PIEDOSAS NÃO PASSAVAM DE MÁSCARA PARA ENCOBRIR A GANÂNCIA E COBIÇA.
Uma opinião comum entre os historiadores é a de que o aumento da população na Europa originou uma crise, devida ao excesso de “segundos filhos” de nobres, treinados nas artes bélicas de cavalaria, mas sem terras ou feudos onde se estabelecer. Por esse motivo, as Cruzadas seriam uma válvula de escape, mandando esses homens belicosos para longe da Europa, onde pudessem obter terras para si à custa dos outros. Os pesquisadores atuais, graças à ajuda de bancos de dados computadorizados, desmontaram esse mito. Hoje sabemos que os “primeiros filhos” da Europa foram os que responderam ao apelo do Papa em 1095, e também nas Cruzadas seguintes.
Empreender uma Cruzada era uma operação extremamente cara. Os Senhores tiveram que hipotecar suas terras para angariar os fundos necessários. Além do mais, não estavam interessados em reinos no além-mar. Como os soldados de hoje, o Cruzado medieval orgulhava se de estar cumprindo o seu dever, mas queria voltar para casa. Após o espetacular sucesso da Primeira Cruzada, com Jerusalém e grande parte da Palestina em seu poder, quase todos os Cruzados voltaram. Somente um pequeno grupo ficou para consolidar e governar os territórios recém-conquistados. Foram raras as pilhagens. Embora de fato sonhassem com as grandes riquezas das cidades do Oriente, praticamente nenhum Cruzado conseguiu recuperar os seus gastos. Mas não foram nem o dinheiro nem as terras o principal motivo que os levaram às Cruzadas: o que queriam era fazer penitência pelos seus pecados e merecer a própria salvação fazendo boas obras em terras distantes.
MITO Nº 3: QUANDO OS CRUZADOS TOMARAM JERUSALÉM EM 1099, MASSACRARAM TODOS OS HOMENS, MULHERES E CRIANÇAS, ENCHENDO AS RUAS DE SANGUE ATÉ OS TORNOZELOS.
Esse é o modo preferido de pôr em evidência o caráter malévolo das Cruzadas. Num recente discurso em Georgetown, o ex-presidente Bill Clinton disse que esse foi um dos motivos pelos quais agora os Estados Unidos são alvo de terroristas (embora no citado discurso o Sr. Clinton tenha subido o nível do sangue até a altura dos joelhos, para dar mais ênfase). É certamente verdade que muita gente morreu em Jerusalém após a tomada da cidade pelos Cruzados. Mas o fato deve ser analisado no seu contexto histórico.
O costume vigente em todas as civilizações pré-modernas, tanto na Europa quanto na Ásia, era que se uma cidade resistisse à captura e fosse tomada pela força, sua posse caberia às forças vitoriosas. Isso incluía não somente os edifícios e os bens, mas também as pessoas. Por isso, cada cidade ou fortaleza devia pensar muito bem se podia ou não resistir a um cerco: se não pudesse, o mais prudente era negociar os termos da rendição. No caso de Jerusalém, seus defensores resistiram até o último instante. Calcularam que as imponentes muralhas da cidade conteriam os Cruzados até chegarem os reforços do Egito. Eles erraram: a cidade caiu e conseqüentemente foi saqueada. Muitos morreram, mas outros muitos foram aprisionados ou deixados livres para partir. Pelos padrões modernos, isso talvez pareça brutal, mas até mesmo um cavaleiro medieval poderia replicar dizendo que nos bombardeios modernos morrem mais inocentes – homens, mulheres e crianças – do que seria possível passar ao fio da espada em um ou dois dias.
Convém lembrar também que nas cidades muçulmanas que se renderam aos Cruzados, as pessoas foram deixadas em paz, na posse das suas propriedades, e com permissão para praticar livremente a sua religião. Quanto às ruas cheias de sangue, nenhum historiador aceita isso: não passa de um mero recurso literário. Jerusalém é uma cidade grande, e a quantidade de pessoas que seria necessário abater para inundar as ruas com dez centímetros de sangue é muito superior à população de toda a região.
MITO Nº 4: AS CRUZADAS NÃO PASSARAM DE COLONIALISMO MEDIEVAL ENFEITADO COM ORNAMENTOS RELIGIOSOS.
É importante lembrar que, na Idade Média, o Ocidente não era uma cultura poderosa e dominante, que se lançava sobre uma região primitiva ou atrasada. Era o Oriente muçulmano que era poderoso, próspero e opulento. A Europa era o terceiro mundo. O Reino Latino de Jerusalém, fundado após a Primeira Cruzada, não era um latifúndio católico incrustado em terras muçulmanas, como depois viriam a ser as terras de plantio em algumas colônias ibéricas ou inglesas na América. A presença católica nesse Reino sempre foi mínima: menos de um décimo da população. Católicos eram os governantes, os juízes, alguns mercadores italianos e os membros das ordens militares: o resto, a imensa maioria da população, era de muçulmanos. O Reino de Jerusalém não era uma colônia agrícola nem industrial, como depois viriam ser as da América ou da Índia: era apenas uma cabeça-de-ponte fortificada.
A intenção primordial dos Cruzados era defender os Lugares Santos na Palestina – principalmente Jerusalém – e garantir um ambiente seguro para que os peregrinos cristãos pudessem visitá-los. Nenhum país europeu funcionava como metrópole, no sentido de manter relações de exploração econômica, nem havia na Europa quem se beneficiasse economicamente com a ocupação. Muito pelo contrário: as despesas das Cruzadas e da manutenção do Reino Latino de Jerusalém ceifaram pesadamente os recursos europeus. Como posto avançado, o Reino de Jerusalém manteve-se sempre atento ao seu papel militar. Enquanto os muçulmanos guerrearam entre si o Reino esteve a salvo, mas quando se uniram, conseguiram conquistar as fortalezas, capturar as cidades e em 1291 expulsar os cristãos definitivamente.
MITO Nº 5: AS CRUZADAS COMBATERAM TAMBÉM OS JUDEUS.
Nenhum Papa jamais conclamou uma Cruzada contra os judeus. Durante a Primeira Cruzada, um grande bando de arruaceiros – que não fazia parte do exército principal – decidiu atacar as cidades da Renânia para matar e roubar os judeus dali. As razões para esse ato foram por um lado a pura cobiça, e por outro a falsa crença de que os judeus, por terem matado Jesus Cristo, eram também alvos legítimos das Cruzadas. O Papa Urbano II e os seus sucessores condenaram energicamente esses ataques, e os bispos locais – juntamente com o clero e os leigos – fizeram o que podiam para defender os judeus, embora com pouco sucesso. Algo parecido ocorreu na fase inicial da Segunda Cruzada, quando um grupo de renegados matou muitos judeus na Alemanha, até que São Bernardo os apanhou e pôs um fim a isso.
Essas falhas foram um infeliz subproduto do entusiasmo pelas Cruzadas, mas nunca o seu objetivo. Para usar uma analogia moderna: durante a Segunda Guerra Mundial alguns soldados cometeram crimes quando estavam em outros países (pelos quais, aliás, foram presos e punidos), mas isso não justifica dizer que o objetivo da Segunda Guerra foi o de cometer crimes.
MITO Nº 6: AS CRUZADAS FORAM ALGO TÃO VIL E DEGENERADO QUE HOUVE ATÉ UMA CRUZADA DAS CRIANÇAS.
A chamada “Cruzada das Crianças” de 1212 nem foi uma Cruzada nem consistiu num exército de crianças. Foi uma onda de entusiasmo religioso especialmente prolongada na Alemanha que levou alguns jovens – na maior parte adolescentes – a se autoproclamarem Cruzados e começarem a marchar rumo ao Mediterrâneo. Ao longo do caminho foram recebendo grande apoio popular, e a companhia de não poucos bandoleiros, ladrões e mendigos. O movimento se desmembrou quando chegou à Itália e terminou quando o mar se recusou a abrir-se para dar-lhes passagem… O Papa Inocêncio III não convocou essa tal “Cruzada”, pelo contrário: pediu insistentemente para que os não combatentes ficassem em casa e apoiassem o esforço de guerra apenas com jejuns, orações e esmolas. Nesse episódio, depois de louvar o zelo e a disposição desses jovens que tinham marchado até tão longe, mandou-os de volta para casa.
MITO Nº 7: O PAPA JOÃO PAULO II PEDIU PERDÃO PELAS CRUZADAS.
É um mito curioso, porque João Paulo II – que já havia pedido perdão por todas as injustiças que os cristãos cometeram ao longo dos séculos – foi muito criticado justamente por não ter pedido perdão expressamente pelas Cruzadas. É verdade que João Paulo II pediu perdão aos gregos pelo saque de Constantinopla em 1204, durante a Quarta Cruzada, mas o Papa da época, Inocêncio III, também já tinha manifestado o seu pesar a respeito desse trágico incidente. Da sua parte, Inocêncio III fizera tudo para evitar que isso acontecesse.
MITO Nº 8: OS MUÇULMANOS, QUE CONSERVAM UMA VIVA LEMBRANÇA DAS CRUZADAS, TÊM TODA A RAZÃO EM ODIAR O OCIDENTE.
De fato, o mundo muçulmano tem uma lembrança das Cruzadas tão boa quanto a do Ocidente, ou seja, uma lembrança incorreta. Isso não deve surpreender-nos, pois os muçulmanos obtêm a sua imagem das Cruzadas através mesmas histórias mal contadas que o Ocidente. O mundo muçulmano costuma celebrar as Cruzadas como uma grande vitória sua (aliás, eles venceram mesmo). Mas os autores ocidentais, envergonhados do seu passado imperialista, inverteram os papéis e passaram a pintar as Cruzadas como uma agressão e os muçulmanos como pacíficos sofredores agredidos. Fazendo isso, simplesmente omitiram os séculos de triunfos muçulmanos, e em seu lugar colocaram apenas o consolo do vitimismo.
*Professor de História e diretor do Centro de Estudos Medievais e Renascentistas na Universidade de Saint Louis, EUA.

Disponível em: http://www.quadrante.com.br/artigos_detalhes.asp…

“Olhem para os franj! Vejam com que fúria lutam por sua religião".

“Olhem para os franj! Vejam com que fúria lutam por sua religião, enquanto nós, muçulmanos, não demonstramos ardor algum em travar a Guerra Santa.”
(Saladino)

Vários historiadores comentam sobre a carnificina que vigorava no Oriente durante o período das Cruzadas. Muita gente acredita que a região vivia um momento de unidade e respeito entre os maometanos, e com a chegada dos francos foi instaurado um tempo de terror. 
A situação era um pouco diferente, pois os conflitos internos geravam muita instabilidade naquela região. Segundo os próprios cronistas árabes, havia uma divisão intensa entre os islâmicos, os emires estavam mais preocupados em assuntos relacionados às suas províncias do que com a fé que professavam. Dificilmente um líder falecia de formas naturais, na maioria das vezes pereciam em batalhas, apunhalados em seus próprios aposentos ou mortos por envenenamento. “Era preciso matar para sobreviver”. 
A fragmentação Seljúcida, por exemplo, era tão grande que muitos emires preferiam apoiar o Exército Cristão, oferecendo ouro, suprimentos, montarias e guias, a sair em auxílio de outras províncias muçulmanas, pois tinham o receio de algum chefe árabe derrotar os europeus e obter status de salvador ou líder do islã. Essa desagregação foi o fator preponderante para o êxito da Primeira Cruzada.

Referência:
MAALOUF, Amin. As Cruzadas Vistas pelos Árabes. Tradução de Pauline Alphene e Rogério Muoio. São Paulo: Brasiliense, 1989.

Gustavo Doré

Considerado um dos maiores gravuristas de todos os tempos, Louis Auguste Gustave Doré (1832-1883), nasceu em Estrasburgo e logo cedo iniciou sua carreira artística; aos 15 anos de idade teve algumas de suas ilustrações publicadas por um periódico de Paris, o Journal Pour Rire.
O artista francês emprestou sua arte para grandes clássicos da literatura mundial, como A Divina Comédia, de Dante, O Corvo, de Edgar Allan Poe, Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, Pantagruel, de Rabelais, dentre outros. Ao todo, mais de 90 obras, inclusive a Bíblia, receberam ilustrações de Gustavo Doré.
Além das obras citadas acima, Gustavo Doré assinou as ilustrações de um grande clássico de cunho histórico: A História das Cruzadas, obra em sete volumes, de Joseph François Michaud. Batalhas, personagens e locais mencionados por Michaud, e descritos nas crônicas medievais, puderam ser visualizados com elevado grau de realismo.





Referência:
ABRÃO, Luciana. A perfeição em tons de cinza. Disponível em:http://www.carcasse.com/revi…/lunatus/gustave_dore/index.php.
Imagem 1: Godofredo entra em Jerusalém. Disponível em:http://www.iglesiapueblonuevo.es/index.php…
Imagem 2: Godofredo de Bouillon recebe emires em sua tenda. Disponível em: http://cruzadas40.rssing.com/chan-25137672/all_p3.html
Imagem 3: Cruzados cercados pelo exército de Saladino.
Disponível em: http://paintings.culturesite.org/pt/artist.php?Gustave_Dore
Imagem 4: Morte gloriosa de Jacques de Maille. Disponível em:http://www.wikiart.org/…/glorious-death-of-jacques-de-maill…

Hugo de Valdemonte e Ana de Lorena.

"O cavaleiro e conde Hugo I de Vaudemonte († 1155) ficou 16 anos preso na Terra Santa após a Segunda Cruzada, quando acompanhou o rei Luís VII (1120-1180). Sua esposa Ana de Lorena recusou se casar de novo e esperou seu retorno. A cena da escultura tumular (no priorado de Belval, hoje na igreja dos franciscanos, em Nancy) mostra o emocionante reencontro dos dois. Foi esculpida por ordem de seu filho Geraldo II († 1188). Trata-se verdadeiramente da personificação medieval do mito da Odisseia de Ulisses e Penélope! Repare nas vestes rotas e no aspecto sofrido do cruzado que à casa retorna, seu cajado de peregrino, a barba, e o carinhoso abraço da esposa saudosa."




COSTA, Ricardo da. Os sonhos e a História: Lo Somni (1399) de Bernat Metge. In: Revista de lenguas y literaturas catalana, gallega y vasca. Anuario de filologia catalana, galega y vasca (RLLCGV). Madrid: UNED. Año 2012. Volumen XVII. 








As Cruzadas e o açúcar.


"Entre as produções dos rios da Fenícia, uma planta cujo suco era mais doce que o mel, atraiu principalmente a atenção dos cruzados. Era a cana-de-açúcar, cultivada em várias províncias da Síria e principalmente no território de Trípoli, onde se havia encontrado o meio de lhe extrair a substância, que os habitantes chamam de açúcar (zucra). Segundo Alberto d' Aix, ela tinha sido de grande auxílio aos cristãos perseguidos pela miséria no cerco de Marrah e de Archas. Essa planta que é hoje uma produção tão importante no comércio, até então não era conhecida no Ocidente. Os peregrinos levaram-na para a Europa; no fim das cruzadas, foi levada para a Sicília e à Itália e os sarracenos introduziram-na no reino de Granada, onde os espanhóis transportaram-na, em seguida, para Madeira e às colônias da América."
MICHAUD, Joseph François. História das Cruzadas, Vol. 1. Tradução de Vicente Pedroso. São Paulo: Editora das Américas, 1956. p. 370-371.

Cavaleiros cruzados

Muitos dos cavaleiros que participaram das Cruzadas ganharam fama e passaram a habitar o imaginário popular da Europa Medieval; ocuparam um espaço antes reservado a Artur e seus Cavaleiros da Távola Redonda.
As vitórias e atos de bravura desses guerreiros durante toda a expedição eram narradas à exaustão, por cronistas e pelos cruzados que regressavam à Europa. Não tardou muito para que Tancredo de Hauteville, Boemundo de Taranto, Ricardo Coração de Leão, Balian de Ibelin e Godofredo de Bouillon, dentre outros, fossem imortalizados através da literatura, pinturas e esculturas. História e mito fundiram-se definitivamente nesses Cavaleiros Cruzados.

Imagem:
O arcanjo Gabriel encarrega Godofredo de Bulhão de libertar Jerusalém (afresco na Casa Massimo de Roma,1817-1827).


O que foram as Cruzadas?


Resumidamente, as Cruzadas foram um misto de peregrinação e expedição militar que tinham como principal, mas não único, objetivo retomar a Cidade Santa do domínio muçulmano e devolvê-la para a cristandade. Vale lembrar que Jerusalém fora controlada pelos cristãos até o século VII, quando foi conquistada pelo califa Omar, permanecendo como posse do islã por vários séculos.


Em 1095, quando a Europa foi chamada pelo papa Urbano II a marchar para Jerusalém, os homens e mulheres que aderiram àquela causa costumavam costurar cruzes de tecidos sobre suas vestes, fazendo com que os peregrinos fossem chamados, algum tempo depois, de “cruzados” e o movimento, em geral, ficou conhecido pela posteridade como “Cruzadas”.