Histórias das Cruzadas

domingo, 14 de outubro de 2018

As mulheres e suas distintas reações frente ao perigo na batalha de Doriléia.

Milhares de não combatentes acompanharam os guerreiros que partiram da Europa a caminho de Jerusalém na Primeira Cruzada. Um número incontável de idosos, crianças e mulheres aderiram à campanha, fato pouco comum em exércitos da Idade Média. Isso é mais uma evidência de que, acima de tudo, a campanha tinha uma conotação espiritual para aquela gente. Entretanto, essas pessoas que não portavam armas são poucas vezes mencionadas em documentos que narram aqueles eventos. No caso das mulheres, sabe-se que elas poderiam, inclusive, vetar a ida de seus maridos para aquela cruzada. Por determinação papal, os homens recém-casados só poderiam acompanhar a expedição mediante autorização de suas respectivas esposas.
Na batalha de Doriléia as mulheres foram, enfim, mencionadas nas crônicas acerca daquela peregrinação. No referido confronto, enquanto estavam acampados, uma divisão do exército cruzado foi pega de surpresa por tropas seljúcidas em número imensamente superior. Boemundo de Tarento ordenou, então, que os indivíduos considerados indefesos (mulheres, crianças, enfermos e idosos) ficassem no centro do acampamento, como forma de protegê-los. Diante do iminente massacre dos cristãos, as mulheres tiveram reações diferentes.

Batalha de Doriléia (Gustavo Doré)


Segundo as crônicas, em meio a toda confusão da batalha, algumas das mulheres se vestiram com suas melhores roupas e se adornaram, com intuito de que os seljúcidas notassem-nas. Essas julgavam que, naquela circunstância, era melhor serem capturadas e feitas reféns do que morrer. Foi a maneira que encontraram para se defenderem. Outras se empenharam na árdua tarefa de fazer com que os guerreiros se mantivessem firmes até a chegada das outras divisões que vinham socorrê-los. O anônimo autor da Gesta Francorum diz que “Naquele dia, nossas mulheres prestaram-nos grande auxílio trazendo água para beber a nossos combatentes e também não cessando de encorajá-los à luta e à defesa”; encarregaram-se também de cuidar dos feridos. Mesmo não pegando em armas, foram decisivas na resistência. As demais divisões do exército cristão chegaram, os turcos foram vencidos e a cruzada continuou.

Referências:
RUNCIMAN, Steven. História das Cruzadas Vol. I: a Primeira Cruzada e a fundação do Reino de Jerusalém. Tradução de Cristina de Assis Serra. Rio de Janeiro: Imago, 2003.
MICHAUD, Joseph François. História das Cruzadas, Vol. 1. Tradução de Vicente Pedroso. São Paulo: Editora das Américas, 1956.

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