Rei dos vinhos, Vinho dos reis!
Quando
falamos de Barolo ou do húngaro Tokaji, a exaltação acima é sempre
lembrada. No entanto, este ditado é muito mais antigo e provavelmente proferido
pela primeira vez por Ricardo Coração de Leão (Ricardo I – Rei da Inglaterra),
sobre o mítico vinho licoroso Commandaria da Ilha de Chipre. Talvez seja o
vinho mais antigo, ainda produzido.
Reputado na
Grécia Antiga na era de 800 AC (antes de Cristo), sua origem data por volta de
quatro mil anos, tendo grande prestígio no tempo das Cruzadas e reverenciado
nas cortes européias. Aliás, o nome Commandaria foi dado nesta época, no século
XII, quando Cavaleiros Templários foram os guardiões de uma área delimitada da
ilha, onde eram cultivadas as uvas do famoso vinho. Commandaria, inicialmente,
é uma palavra que designa uma ordem (organização) militar.
O vinho
destacou-se ainda mais neste período, após ter sido eleito o melhor em uma
competição no século XIII, conhecida como a Batalha dos Vinhos, onde
participaram os grandes vinhos da Europa.
Elaborado
com as uvas locais Mavro (uva tinta) e Xynisteri (uva branca), as mesmas após
serem colhidas bem maduras, passam ainda por um processo de soleamento,
aumentando ainda mais a concentração de açúcares. O mosto é extraído lentamente
através de prensas verticais, e então submetido a uma demorada fermentação.
Normalmente, atinge 15º de álcool, com açúcar residual bastante elevado (cerca
de quatro vezes em relação ao vinho do Porto). Sua doçura e viscosidade lembram
um Pedro Ximenez (o típico Jerez doce), mas olfativamente está mais inclinado
ao Porto, pelos aromas de chocolate e torrefação.
O vinho
atualmente deve permanecer em madeira pelo menos dois anos antes da comercialização,
embora nos tempos áureos, sua permanência fosse condicionada ao perfeito
equilíbrio de seus componentes.
Concentrado e de textura viscosa
Este breve
histórico tem o objetivo de enriquecer a harmonização abaixo proposta por
Philippe Faure-Brac, um dos grandes sommeliers do mundo, proprietário do
Bistrot du Sommelier em Paris.
Sachertorte, um clássico da
Áustria.
A famosa
torta de chocolate austríaca apresenta sabores intensos e textura cremosa. A
massa e a cobertura são à base de chocolate e o recheio com de geléia
de damasco.
A riqueza
aromática do Commandaria e sua textura aveludada formam um par perfeito com a
torta, numa explosão de sabores. É sem dúvida, uma harmonização por
similaridade em termos de corpo, intensidade e textura, onde outros vinhos
clássicos, provavelmente seriam sucumbidos pela doçura e forte presença de
chocolate cremoso do prato. Banyuls e Portos, de boa concentração e potência,
podem ter sucesso.
Texto extraído de:
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