Histórias das Cruzadas

domingo, 14 de outubro de 2018

Gustavo Doré.

Considerado um dos maiores gravuristas de todos os tempos, Louis Auguste Gustave Doré (1832-1883), nasceu em Estrasburgo e logo cedo iniciou sua carreira artística; aos 15 anos de idade teve algumas de suas ilustrações publicadas por um periódico de Paris, o Journal Pour Rire.
O artista francês emprestou sua arte para grandes clássicos da literatura mundial, como A Divina Comédia, de Dante, O Corvo, de Edgar Allan Poe, Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, Pantagruel, de Rabelais, dentre outros. Ao todo, mais de 90 obras, inclusive a Bíblia, receberam ilustrações de Gustavo Doré.
Além das obras citadas acima, Gustavo Doré assinou as ilustrações de um grande clássico de cunho histórico: A História das Cruzadas, obra em sete volumes, de Joseph François Michaud. Batalhas, personagens e locais mencionados por Michaud, e descritos nas crônicas medievais, puderam ser visualizados com elevado grau de realismo.

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Referências:
ABRÃO, Luciana. A perfeição em tons de cinza. Disponível em: http://www.carcasse.com/revi…/lunatus/gustave_dore/index.php.
Imagem 1: Godofredo entra em Jerusalém. Disponível em: http://www.iglesiapueblonuevo.es/index.php…
Imagem 2: Godofredo de Bouillon recebe emires em sua tenda. Disponível em: http://cruzadas40.rssing.com/chan-25137672/all_p3.html
Imagem 3: Cruzados cercados pelo exército de Saladino.
Disponível em: http://paintings.culturesite.org/pt/artist.php?Gustave_Dore
Imagem 4: Morte gloriosa de Jacques de Maille. Disponível em: http://www.wikiart.org/…/glorious-death-of-jacques-de-maill…

Robert the Bruce: o verdadeiro coração valente


Quando o então rei, Alexandre III, faleceu sem deixar sucessor, algumas nobres famílias passaram a disputar o trono escocês, dentre esses estavam os Bruce. Os conflitos favoreceram ao domínio que a Inglaterra impunha àquela região. Nessa mesma época um famoso insurgente, Willian Wallace, liderou alguns levantes contra os ingleses.


Ao ver que alguns clãs se sobressaíam nessas disputas, o pai de Robert the Bruce uniu forças com o rei inglês, Edward I, para suprimir seus rivais, em especial os Balliol que predominavam nas contendas. Em 1304, após a morte de seu pai, Robert the Bruce passou a reivindicar a coroa. Em 1306, Robert se encontrou com John Comyn, outro aspirante ao trono, na Igreja Greyfriars; Bruce o assassinou em pleno altar, fato que o levou a ser imediatamente excomungado pelo Papa da época.
Robert the Bruce fora coroado rei em uma discreta e rápida cerimônia, em 1306. Esse acontecimento fez com que Edward I enviasse tropas para derrotá-lo; vários de seus familiares foram mortos ou capturados pelo rei inglês. Teve que enfrentar também a família e aliados de John Comyn. Com forças muito inferiores as de seus adversários, Bruce se retirou por um tempo, buscou refúgio nas regiões mais altas da Escócia, onde conseguiu organizar pequenas tropas e obter alguns êxitos em guerrilhas. Venceu todos seus adversários ao trono escocês, que não tiveram outra opção a não ser apoiá-lo.
Em 1314 houve a batalha de Bannockburn, onde os escoceses unidos em torno de Robert the Bruce venceram o exército inglês. Consta que o número de combatentes ingleses era três vezes maior que o contingente escocês. Essa vitória significou a autonomia e estabilidade para a Escócia. Nos anos seguintes Felipe da França reconheceu Robert como legítimo soberano da Escócia; o Papa João XXII anulou sua excomunhão, entretanto sem reconhecê-lo como rei; Edward II, por sua vez, assinou um termo reconhecendo a independência da Escócia.
Após tantas lutas, Robert the Bruce acabou acometido por uma das mais temidas doenças da Idade Média: a lepra. A degeneração física causada pela enfermidade o levou a se afastar do convívio social, só recebia pessoas mais próximas. Robert faleceu em 1329, seu corpo foi enterrado na Abadia Dunfermline Abbey, ao lado de sua esposa Elizabeth. Em seu leito de morte fez um último pedido a seu fiel amigo, James Douglas: que seu coração fosse retirado de seu corpo e levado pelos melhores guerreiros escoceses em uma cruzada para Jerusalém e que lá fosse enterrado. Para Bruce, seria uma forma de expiar seus pecados. O coração de Robert the Bruce fora, então, embalsamado e colocado em pequena urna de prata. Entretanto, a última vontade do rei não poderia ser atendida, pois não haveria mais nenhuma cruzada para o Oriente. A Terra Santa estava perdida de forma definitiva.
A oportunidade de realizar o desejo de Robert viria através de um convite do rei da Espanha, que havia mandado emissários em toda Europa recrutando tropas para combater os “infiéis” muçulmanos na Península Ibérica, conflitos esses que também passaram a ser consideradas como cruzadas. James Douglas e um seleto grupo de combatentes escoceses atenderam ao chamado de Alfonso XI e foram recebidos com grande pompa pelo rei, que a essa altura já sabia do propósito daqueles guerreiros. Partiram para o enfretamento no Reino de Granada, a urna com o coração de Bruce havia se tornado o estandarte das tropas. Em determinado momento da batalha, segundo reza a lenda, James Douglas, tirou o coração da urna e o lançou na direção dos adversários e partiu contra os muçulmanos, dizendo: “mostre-me o caminho, coração valente, como sempre fazias, que eu te seguirei ou morrerei”. Ambas as coisas aconteceram. Os escoceses deram sua missão como encerrada, voltaram para casa levando consigo o corpo de Douglas e o coração de Robert, recolhidos no campo de batalha; chegando a seu país deram a notícia de que Robert the Bruce havia lutado contra o infiel e sua alma, enfim, poderia repousar em paz. O coração do rei foi enterrado na abadia de Melrose, na Escócia.



Referências:
Destino Escócia. Robert the Bruce (1274-132). Disponível em: <http://destinoescocia.com/robert-the-bruce-1274-1329/>. Acesso em: 15 de abril de 2016.
Historia de Iberia Vieja. El corazón “español” de Braveheart. Disponível em: <http://www.historiadeiberiavieja.com/…/corazon-espanol-brav….> Acesso em: 15 de abril de 2016.
VELASCO, Manuel. Robert the Bruce, El corazón de Escocia en España. Disponível em: <http://articulosdemanuelvelasco.blogspot.com.br/…/robert-br…>. Acesso em: 15 de abril de 2016.

Imagens:

Estátua equestre em bronze do rei Robert the Bruce, esculpida por Charles D`O Pilkington Jackson. Disponível em: https://vanguardldrship.wordpress.com/2013/07/
Sepultura de Robert the Bruce, Abadia de Dunfermline Abbey. Disponível em: http://www.lockharts.com/2010/01/05/the-heart/




As mulheres e suas distintas reações frente ao perigo na batalha de Doriléia.

Milhares de não combatentes acompanharam os guerreiros que partiram da Europa a caminho de Jerusalém na Primeira Cruzada. Um número incontável de idosos, crianças e mulheres aderiram à campanha, fato pouco comum em exércitos da Idade Média. Isso é mais uma evidência de que, acima de tudo, a campanha tinha uma conotação espiritual para aquela gente. Entretanto, essas pessoas que não portavam armas são poucas vezes mencionadas em documentos que narram aqueles eventos. No caso das mulheres, sabe-se que elas poderiam, inclusive, vetar a ida de seus maridos para aquela cruzada. Por determinação papal, os homens recém-casados só poderiam acompanhar a expedição mediante autorização de suas respectivas esposas.
Na batalha de Doriléia as mulheres foram, enfim, mencionadas nas crônicas acerca daquela peregrinação. No referido confronto, enquanto estavam acampados, uma divisão do exército cruzado foi pega de surpresa por tropas seljúcidas em número imensamente superior. Boemundo de Tarento ordenou, então, que os indivíduos considerados indefesos (mulheres, crianças, enfermos e idosos) ficassem no centro do acampamento, como forma de protegê-los. Diante do iminente massacre dos cristãos, as mulheres tiveram reações diferentes.

Batalha de Doriléia (Gustavo Doré)


Segundo as crônicas, em meio a toda confusão da batalha, algumas das mulheres se vestiram com suas melhores roupas e se adornaram, com intuito de que os seljúcidas notassem-nas. Essas julgavam que, naquela circunstância, era melhor serem capturadas e feitas reféns do que morrer. Foi a maneira que encontraram para se defenderem. Outras se empenharam na árdua tarefa de fazer com que os guerreiros se mantivessem firmes até a chegada das outras divisões que vinham socorrê-los. O anônimo autor da Gesta Francorum diz que “Naquele dia, nossas mulheres prestaram-nos grande auxílio trazendo água para beber a nossos combatentes e também não cessando de encorajá-los à luta e à defesa”; encarregaram-se também de cuidar dos feridos. Mesmo não pegando em armas, foram decisivas na resistência. As demais divisões do exército cristão chegaram, os turcos foram vencidos e a cruzada continuou.

Referências:
RUNCIMAN, Steven. História das Cruzadas Vol. I: a Primeira Cruzada e a fundação do Reino de Jerusalém. Tradução de Cristina de Assis Serra. Rio de Janeiro: Imago, 2003.
MICHAUD, Joseph François. História das Cruzadas, Vol. 1. Tradução de Vicente Pedroso. São Paulo: Editora das Américas, 1956.

Commandaria: O vinho das Cruzadas

Rei dos vinhos, Vinho dos reis!

Quando falamos de Barolo ou do húngaro Tokaji, a exaltação acima é sempre lembrada. No entanto, este ditado é muito mais antigo e provavelmente proferido pela primeira vez por Ricardo Coração de Leão (Ricardo I – Rei da Inglaterra), sobre o mítico vinho licoroso Commandaria da Ilha de Chipre. Talvez seja o vinho mais antigo, ainda produzido.

Reputado na Grécia Antiga na era de 800 AC (antes de Cristo), sua origem data por volta de quatro mil anos, tendo grande prestígio no tempo das Cruzadas e reverenciado nas cortes européias. Aliás, o nome Commandaria foi dado nesta época, no século XII, quando Cavaleiros Templários foram os guardiões de uma área delimitada da ilha, onde eram cultivadas as uvas do famoso vinho. Commandaria, inicialmente, é uma palavra que designa uma ordem (organização) militar.

O vinho destacou-se ainda mais neste período, após ter sido eleito o melhor em uma competição no século XIII, conhecida como a Batalha dos Vinhos, onde participaram os grandes vinhos da Europa.

Elaborado com as uvas locais Mavro (uva tinta) e Xynisteri (uva branca), as mesmas após serem colhidas bem maduras, passam ainda por um processo de soleamento, aumentando ainda mais a concentração de açúcares. O mosto é extraído lentamente através de prensas verticais, e então submetido a uma demorada fermentação. Normalmente, atinge 15º de álcool, com açúcar residual bastante elevado (cerca de quatro vezes em relação ao vinho do Porto). Sua doçura e viscosidade lembram um Pedro Ximenez (o típico Jerez doce), mas olfativamente está mais inclinado ao Porto, pelos aromas de chocolate e torrefação.

O vinho atualmente deve permanecer em madeira pelo menos dois anos antes da comercialização, embora nos tempos áureos, sua permanência fosse condicionada ao perfeito equilíbrio de seus componentes.


Concentrado e de textura viscosa
Este breve histórico tem o objetivo de enriquecer a harmonização abaixo proposta por Philippe Faure-Brac, um dos grandes sommeliers do mundo, proprietário do Bistrot du Sommelier em Paris.

Sachertorte, um clássico da Áustria.
A famosa torta de chocolate austríaca apresenta sabores intensos e textura cremosa. A massa e a cobertura são à base de chocolate e o recheio com de geléia de damasco.

A riqueza aromática do Commandaria e sua textura aveludada formam um par perfeito com a torta, numa explosão de sabores. É sem dúvida, uma harmonização por similaridade em termos de corpo, intensidade e textura, onde outros vinhos clássicos, provavelmente seriam sucumbidos pela doçura e forte presença de chocolate cremoso do prato. Banyuls e Portos, de boa concentração e potência, podem ter sucesso.

Texto extraído de:

Cientistas estudam o "coração de leão" do lendário rei Ricardo

Murta, crisântemo, menta, mercúrio, olíbano... A análise feita por uma equipe francesa do coração embalsamado do rei inglês Ricardo Coração de Leão, mais de 800 anos após sua morte, revela um procedimento de conservação muito elaborado, inspirado em textos bíblicos.

É o mais antigo coração embalsamando já estudado na França. Os resultados foram publicados nesta quinta-feira no site da revista Scientific Reports, do grupo britânico Nature.

"Foi um embalsamamento extremamente complexo, muito elaborado", explicou Philippe Charlier, chefe da equipe de médicos legistas, antropólogos, e cientistas que realizou as pesquisas.

Especialista em antropologia médico-legal, Charlier esteve à frente da autentificação da cabeça mumificada do rei Henrique IV da França. Sua equipe passou um pente fino em uma amostra de 2 gramas, das quase 80 dos restos do coração de Ricardo I, rei cruzado conhecido pela alcunha de "Ricardo Coração de Leão", hoje reduzido a pó.

Os restos do coração de Ricardo I estavam em uma caixa de chumbo descoberta em 1838 na catedral de Rouen. A caixa trazia a inscrição "Repousa aqui o coração de Ricardo, rei dos ingleses". Os exames e análises revelaram "muitos resíduos diferentes", às vezes surpreendentes: um metal - mercúrio -, creosoto - tipo de resíduo orgânico -, vegetais, folhas aromáticas e especiarias (murta, menta, mas também olíbano e crisântemo) e provavelmente cal.


Efígie de Ricardo I na Abadia de Fontevraud, na França
Foto: Adam Bishop/Wikimedia Commons / Wikimedia


Uma proeza técnica para a época, final do século XII. Os primeiros embalsamadores, no referido século, eram cozinheiros e açougueiros "que tinham o hábito de abrir carcaças e tinham aromatizantes a mão". Segundo o cientista francês, a presença de olíbano revela "uma referência a Cristo". "O olíbano é um produto reservado à elite, mas sobretudo diretamente de inspiração divina", ressaltou, lembrando que este foi um dos tesouros (incenso) oferecidos pelos Três Reis Magos no nascimento de Jesus.

O embalsamamento do coração de Ricardo I teria assim uma dupla função. Trata-se primeiramente de garantir a conservação do órgão, levado de Châlus, na região de Limousin (França), onde o rei morreu, até Rouen, a mais de 500 km de distância.
Segundo as práticas da época e seus desenhos, o corpo do rei foi, na verdade, fragmentado: suas entranhas foram enterradas em Châlus, território inimigo; seu coração, víscera nobre, colocado em uma redoma na catedral de Rouen, território inglês; e o resto de seu corpo foi enterrado da abadia de Fontevraud, em Anjou, perto de seu pai, Henrique II e sua mãe, Leonor da Aquitânia.

De acordo com Charlier, "o excessivo cuidado dado a seu coração e o uso de aromáticos dando-lhe um odor de santidade" também poderiam ter a finalidade de levá-lo mais rápido ao paraíso: para alguns religiosos da época, o cavaleiro lendário cometeu muitos crimes, especialmente na Terra Santa, para justificar uma estadia de 33 anos no purgatório.

Figura emblemática da Idade Média, Ricardo Coração de Leão morreu em 1199, aos 41 anos, em consequência de ferimentos no ombro provocadas por uma flecha de madeira.
A equipe de Charlier também encontrou nos restos do coração do rei vestígios de bactérias e fungos, sem poder determinar se eles estavam associados ao ferimento - logo causa da morte (gangrena, infecção generalizada), ou a uma degradação pós-morte. "Nós não encontramos mais nada sobre a causa de morte de Ricardo Coração de Leão", afirmou Philippe Charlier do hospital Raymond Poincaré, da universidade de Versailles-Saint-Quentin-en-Yvelines.

O mito de Ricardo Coração de Leão foi popularizado no início do século XIX por Walter Scott, em seu romance Ivanhoé. No cinema, foi retratado em diversos filmes, como "A rosa e a flecha" (1976), "Robin Hood, rei dos pobres" (1991) e "Robin Hood" (2010), de Ridley Scott.

Charlier ainda não parou de estudar os ingleses. Atualmente ele trabalha nos restos mortais do duque de Bedford, também chamado de Jean de Lancastre, "que colocou Joana D'Arc na fogueira".


Texto extraído de:

"As carroças passavam uma após a outra pela estrada, numa longa fila que não acabava nunca..."

"As carroças passavam uma após a outra pela estrada, numa longa fila que não acabava nunca.
Muitas, muitas carroças, demais, diziam os guerreiros experientes, preocupados com um exército que transportava tanta bagagem.
O que essas carroças continham?
Víveres para o exército, farinha, barris de azeite e vinho, carne salgada, forragem e aveia para os cavalos.
Contudo, murmurava-se também que muitos desses comboios pesados, cobertos de couro, ao lado de tendas indispensáveis para as escalas, levava grande quantidade de baús, contendo mantos, vestidos e os véus das damas. Além da louça indispensável, grande quantidade de roupas de baixo, acessórios de toalete - sabonetes, bacias, espelhos, pentes, escovas e potes de maquilagem e creme da mais fina banha de porco - que as damas que haviam tomado a cruz com seus maridos julgavam indispensáveis a sua caminhada."

A mulher nos tempos das cruzadas - Régine pernoud

Acre, cidade no Norte de Israel, tem sítios arqueológicos da época dos cruzados

Ofuscada por destinos mais famosos como Jerusalém, Nazaré e Belém, a cidade portuária de Acre, no Norte de Israel, nem sempre entra no roteiro turístico de peregrinos cristãos na Terra Santa. Mas duas escavações recentes provam o que arqueólogos e historiadores já intuíam: a cidade de 4.500 anos de idade é mais importante para a história do Cristianismo do que a maioria pensa. Um dos sítios arqueológicos revelou uma cidade subterrânea da era dos cruzados. O outro desencavou uma construção monumental bizantina de 1.500 anos, da época dos primórdios do Cristianismo.

Vista da cidade portuária no Norte de Israel, considerada um marco no Cristianismo. Foto: Ariel Schalit

Nos últimos 20 anos, arqueólogos israelenses têm revelado mais e mais tesouros antigos em Acre. Até então, a cidade da Galileia de 50 mil habitantes, um tanto decadente, era mais conhecida pelas ruelas turco-otomanas do fim do século XVIII, pelo mercado oriental e seus restaurantes de peixes. Hoje, é um centro de arqueologia reconhecido internacionalmente. Não por acaso. A cidade já foi habitada por fenícios, egípcios, cananeus, gregos, romanos, mamelucos, cruzados, turcos, bahais e britânicos, para citar apenas membros de algumas civilizações e crenças.
Nos próximos meses, a prefeitura da cidade vai abrir ao público uma nova seção subterrânea revelando um bairro inteiro da Idade Média, quando Acre era a o porto - e a porta - de entrada dos cruzados na região. A cidade foi conquistada pelos cruzados em 1104 e se tornou um centro de soldados e peregrinos cristãos que tentaram reaver Jerusalém dos "infiéis" depois da ocupação da região pelo Islã, no ano 632.
No bairro descoberto, gravações de brasões em gesso deixadas por um viajante medieval abrem caminho para uma rua de pedras na qual funcionava um mercado onde peregrinos compravam souvenirs da Terra Santa. Tudo ficou como era em 1291, quando Acre foi subitamente reconquistada por muçulmanos egípcios.
- É como uma Pompeia dos tempos romanos. É uma cidade inteira - se maravilha o arqueólogo Eliezer Stern, da Autoridade de Arqueologia de Israel, que considera Acre "uma das cidades mais excitantes da arqueologia mundial".
A novidade se une a atrações arqueológicas medievais já visitadas por turistas, como uma fortaleza de cavaleiros da Ordem dos Hospitalários, com salões e pilares suntuosos, calabouços e latrinas, além de um túnel dos rivais Templários. Há também um mercado, além de prédios inteiros, ruas originais e utensílios usados pelos cristãos da Idade Média.
Sob poder dos cruzados, a cidade se tornou uma espécie de encubadoura de monges e soldados, com facções cristãs europeias lutando entre si pelo comércio local. Mercadores de Gênova, Veneza e Pisa conviviam com moradores muçulmanos e judeus. O bispo francês Jacques de Vitry, que visitou a cidade em 1216, não pintou um quadro muito bonito do cotidiano local.
"Quando entrei nessa cidade horrível e a encontrei cheia de incontáveis atos vergonhosos e malefícios, fiquei muito confuso", escreveu o bispo, que descreveu a cidade como "totalmente depravada" e "cheia de prostitutas". Os moradores, segundo Vitry, estavam "totalmente devotados aos prazeses da carne". Os "pecados" podem ter trazido a ira divina, já que a cidade foi reconquistada pelos muçulmanos em 1291.
A presença cruzada fez com que Acre fosse tombada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Mas, mil anos antes, o porto já era um centro cristão extremamente importante. É o que foi comprovado numa outra escavação recente, que revelou ruínas raras da era bizantina (do ano 324 ao 632). Trata-se, na verdade, do primeiro prédio público bizantino já encontrado na cidade, uma das mais antigas continuamente habitadas da região.

Texto extraído de:

Sexta-feira 13: o azar nasceu na França


Existem entre uma e três sextas-feira 13 num ano civil. Estes dias estão envoltos em mistérios, azares e receios. A origem está em França e no dia em que a Ordem dos Templários foi destruída.

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Hoje é sexta-feira, 13. Existem entre uma e três sextas-feira 13 num ano civil. Esta é a segunda de um ano que tem… 3. Azar?
"Em redor do número 13 existem sombras e desconfianças enraizadas em várias culturas. Eram treze os presentes na Última Ceia, sendo o traidor Judas. No Apocalipse, o número treze é o capítulo onde se assume que o número da besta e do anticristo é o 666. A Cabala, que é um ramo do esoterismo com relações ao judaísmo, enumera treze espíritos malignos. E até no meio do ceticismo nórdico surge a personagem de Loki, o deus do fogo e da travessura, que aparece nas escrituras muitas vezes como sendo o 'décimo terceiro convidado' ”.
Também a sexta-feira tem significados obscuros. A tradição cristã assume que Jesus Cristo foi crucificado à sexta-feira. Alguns estudiosos da Bíblia crêem que Eva levou Adão para o pecado quando lhe ofereceu a maçã ao sexto dia da semana. E não saindo das histórias de traições, conta a história que Abel foi assassinado pelo irmão Caim numa sexta-feira.
Mas onde está a origem do azar supremo que é juntar as sextas-feiras ao número 13? A história está contada no ABC.
“Para entender a origem destes receios, temos de regressar a França e a uma sexta-feira, 13 de outubro de 1307. O dia havia acabado de nascer quando o rei Filipe IV deu início a uma perseguição contra a Ordem dos Cavaleiros Templários. Nas mãos do Papa Clemente V, todos os membros da Ordem foram acusados de sacrilégio à cruz, heresia, sodomia e adoração a ídolos pagãos. Além disso, os cavaleiros eram acusados de manter relações homossexuais entre si, o que era particularmente humilhante para a época.”

Os motivos não eram verdadeiros e nem sequer teriam fundamentação alguma, mas a perseguição era necessária para ao rei, por razões económicas. É que a Ordem era demasiado abastada e poderosa para continuar a ser agiota da coroa francesa e de outras nações europeias.
Convencer Clemente V a alinhar na perseguição não foi tarefa fácil para o rei francês, já que o papa precisava de ajuda militar para organizar uma cruzada na Palestina, liderada pelos Templários. E quando o grão-mestre Jacques de Molay chumbou um projeto para fundir todas as ordens militares de modo a que elas fiquem sob o poder de um rei, o Papa Clemente V não viu motivos para alinhar com o plano de Filipe IV.
Os desentendimentos entre o rei viúvo e o grão-mestre da Ordem não eram novos. Quando Jacques de Molay chegou a França, viu a Ordem ser alvo de calúnias criadas pelo monarca. Por isso o templário pediu ao papa um documento oficial que acabasse com os boatos. E a 12 de outubro de 1307, Clemente V acedeu ao seu pedido e enviou uma carta ao rei prestigiando de novo a Ordem. Mas a amargura de Filipe IV vinha do tempo em que não foi admitido nos Templários, logo após a morte da esposa.

“No final do funeral, na quinta-feira, o mestre foi preso. E na madrugada do dia seguinte todos os meus companheiros se juntaram a ele. Não houve oposição: em França, estavam só os soldados mais velhos. Para não levantar suspeitas, Clemente V repreendeu o rei e mandou guardar os bens dos presos. E guardou-os, de facto, dividindo-os com o rei.”
A Inquisição conseguiu as confissões que queria por meio de tortura, as quais foram mais tarde revogadas pela maioria dos acusados. Alguns foram condenados à fogueira, enquanto outros ficaram em prisão perpétua. Em 1314, durante a leitura das sentenças em Notre-Dame, os nomes com maior expressão da Ordem disseram: “Somos culpados, não dos delitos que nos imputam, mas da cobardia ao cometer de trair o Templo para salvar as nossas vidas”. E foram mortos.

Mas antes de serem atirados à fogueira, Jacobo de Molay acrescentou: “Deus sabe que nos condenaram ao umbral da morte com grande injustiça. Não tardará a vir uma grande calamidade para aqueles que nos condenaram sem respeitar a justiça autêntica. Deus vai responsabilizar-se pelas represálias da nossa morte”. E debaixo desta maldição viveram o rei Filipe IV e o Papa Clemente V, que morreram apenas um ano depois.

Texto extraído de:

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

O túmulo de Saladino


Quando Ricardo Coração de Leão abriu mão de sua Cruzada e decidiu regressar à Europa, Saladino, já exaurido devido a intensas e ininterruptas batalhas, se dirigiu a Damasco, sua cidade favorita. Alguns meses depois adoeceu e, em março de 1193, a existência do célebre sultão do Egito e Síria chegava ao fim.

Durante a vida, o ayúbida destinou seus bens para a construção de escolas e hospitais, no Cairo e em Damasco, sobretudo. Quando faleceu, descobriram que não havia recursos sequer para as cerimônias fúnebres. Seus seguidores tiveram, então, que buscar doações e empréstimos para custear o funeral do sultão.

Segundo a lenda, Saladino havia orientado a um de seus asseclas que levasse uma maltrapilha flâmula por Damasco e proferisse as seguintes palavras: “Vede! Em sua morte, o Rei do Oriente não pode levar nada consigo além de apenas este trapo!”

Saladino foi sepultado no jardim do palácio onde passara seus momentos derradeiros. Três anos depois seu corpo foi retirado e transportado para seu recinto definitivo, um mausoléu próximo a Mesquita dos Omíadas, na própria Damasco. O túmulo de Saladino recebeu, ao longo do tempo, visitantes ilustres, que ali estiveram para demonstrar reverência pelo sultão ou mesmo para evidenciar rancores.

Em 1898 o kaiser Guilherme II fora até Damasco para visitar o túmulo de Saladino, de quem havia demonstrado ser admirador. O imperador alemão encontrou o local em péssimo estado de conservação e resolveu financiar uma completa reforma do mausoléu.

Em 1920, quando se apossou de Damasco, o general francês Henri Gouraud visitou o túmulo de Saladino e disse: “Saladino, nós voltamos. Minha presença aqui consagra a vitória da cruz sobre o crescente”.

Um brasileiro ilustre, fascinado por assuntos do Oriente, também fez questão de visitar o local. O Imperador D. Pedro II, em uma de suas viagens, foi até o mausoléu de Saladino e fez o seguinte registro em seu diário: “A um pátio da mesquita está o túmulo do célebre Saladino que fui ver”.












Referências:

As cruzadas vistas pelos árabes (Amin Maalouf)

As viagens do Imperador: Oriente e África do Norte. 1871 e 1876 (Roberto Khatlab)

Guerreiros de Deus: Ricardo Coração de Leão e Saladino na Terceira Cruzada (James Reston Jr.)

Jerusalém: a biografia (Simon Sebag Montefiori)



Imagens disponíveis em:





quarta-feira, 20 de junho de 2018

Cidadela Saint-Gilles




Após o êxito da Primeira Cruzada, Raimundo de Saint-Gilles, um proeminente conde europeu, almejava conquistar Trípoli, então uma próspera cidade ao norte do Líbano. O êxito de outros líderes cruzados que se tornaram príncipes no Oriente motivou Raimundo na busca de um território para si. Por volta de 1103 começou a sitiar a região.
Em uma elevação que ficou conhecida como Monte dos Peregrinos, nas proximidades de Trípoli, Raimundo construiu uma fortaleza. O propósito do Conde com tal iniciativa era interceptar a chegada e saída de caravanas mercantis e, eventualmente, tentar impor uma invasão. Contudo, a cidade resistiu firmemente às investidas de Raimundo. No final de 1104 as tropas de Trípoli atacaram o Conde em seu forte. Raimundo faleceu alguns meses depois, em decorrência dos ferimentos que sofrera no ataque.
Trípoli resistiu até 1109, quando foi derrotada por uma coalizão liderada pelo rei de Jerusalém e seus vassalos. Bertrand, Filho de Saint-Gilles fora designado para governar a cidade. Trípoli se transformou, então, no quarto Estado cruzado do Oriente.
As ruínas da fortificação erguida sobre o Monte dos Peregrinos sobreviveram até o século presente e são chamadas de Cidadela de Saint-Gilles.



Fonte:
As cruzadas vistas pelos árabes – Amin Maalouf

Imagens:

sábado, 28 de abril de 2018

Arnaldo de Torroja

Arnaldo de Torroja foi o nono grão-mestre da Ordem dos Cavaleiros Templários. Sucedeu Odon de Saint-Amand, que fora aprisionado por muçulmanos e morreu no cativeiro. Antes de ser eleito grão-mestre, em 1180, já havia ocupado cargos proeminentes da Ordem e liderou os templários na Espanha e Portugal durante a Reconquista.

Em 1184 Arnaldo regressou para a Europa, acompanhado do grão-mestre do Hospital e do Patriarca de Jerusalém, com o propósito de convencer reis europeus a enviarem reforços para defender a Terra Santa. Arnaldo de Torroja adoeceu durante passagem pela Península Itálica e faleceu em Verona, no ano de 1184. Seu sucessor foi Gerard de Ridefort.

Recentemente, durante obras de restauração na Igreja San Fermo de Maggiori, em Verona, foi descoberto um túmulo com uma cruz templária gravada. Após testes realizados por pesquisadores das universidades de Bolonha e Harvard, conclui-se que os restos mortais contidos ali são de Arnaldo de Torroja. É o único grão-mestre templário a ser encontrado até hoje.

Referências:

Os Templários – Pier Paul Read

https://seuhistory.com/noticias/corpo-de-grao-mestre-da-ordem-dos-templarios-e-encontrado-por-acaso

http://www.voxtempli.org/?p=8319#!prettyPhoto

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Arqueologia/noticia/2018/04/ossada-de-suposto-grao-mestre-templario-e-analisada-por-arqueologos.html

terça-feira, 24 de abril de 2018

Personagens das Cruzadas: Usama Ibn Munqidh

Usama Ibn Munqidh

Hoje, 23 de abril, é o dia mundial do livro. Aproveitamos a ocasião para relembrar um episódio ocorrido no período das cruzadas, envolvendo um proeminente indivíduo islâmico, que demonstra o valor dado, desde aquela época, a esse valioso objeto.

Usama Ibn Munqidh foi um guerreiro, diplomata e cronista; pertenceu a dinastia dos munquiditas, uma família que controlava a cidade de Shaizar, na Síria. Preterido na sucessão ao posto de emir, deixou Shaizar e começou a frequentar diversas cortes islâmicas, para quais oferecia seus serviços em troca de vantagens pessoais. Constantemente era enviado em missões diplomáticas. Conheceu pessoalmente alguns dos grandes personagens das cruzadas, como Nureddin, Fulque de Anjou, e Saladino, além de outros membros da nobreza ierosomilitana e das ordens militares. Em seus textos, Usama se mostra horrorizado com os hábitos dos francos estabelecidos no Oriente, porém, em contrapartida, escreve de forma favorável aos Cavaleiros Templários, de quem dizia ser amigo.

Em 1156 ocorreu um infortúnio com Usama que o deixou profundamente abalado. Nessa época prestava seus serviços para a corte fatimida do Cairo, onde proliferavam intrigas políticas entre califas e vizires, muitas fomentadas pelo próprio Usama Ibn Munqid. Em uma dessas contendas Usama se viu obrigado a deixar o Cairo junto de sua família; tinham Damasco como destino. Abrigou em uma embarcação boa parte das riquezas que acumulara até então, dentre essas estava sua estimada biblioteca particular, composta por milhares de volumes. O navio foi atacado e capturado. Usama conseguiu escapar com sua família, mas seus pertences foram tomados pelos cruzados. Anos após tal incidente, mostrou consternação ao escrever que: “A notícia de que meus filhos e nossas mulheres estão a salvo tornou mais fácil assimilar o fato de toda a riqueza perdida. Exceto os livros: 4 mil volumes. Um pesar que durou o resto da minha vida.”

A biblioteca de Usama fora confiscada por Amauri, rei de Jerusalém, que a destinou para Guilherme de Tiro, o maior dos cronistas cruzados. Guilherme escrevera que fez uso de fontes árabes na elaboração de suas obras; é, portanto, possível que tanto a biblioteca quanto os textos do próprio Usama tenham sido consultados pelo cronista cristão, sobretudo para suas crônicas acerca das cruzadas e em outra na qual narra a história do islã, trabalho esse que, infelizmente, se perdeu no tempo. No entanto “History of Deeds Done Beyond the Sea”, de Guilherme de Tiro e “The Boook of the Contemplation”, de Usama Ibn Munqidh estão disponíveis no mercado e são presenças constantes na bibliografia de todos os historiadores que escreveram sobre as cruzadas.

Usama terminou seus dias em Damasco, aos 93 anos de idade. Foi sepultado em algum lugar do Monte Qasioun, na própria Damasco.

Referências:

Jerusalém: a biografia - simon Sebag Montefiore

As cruzadas vistas pelos árabes – Amin Maalouf

Os templários – Piers Paul Read


Imagens:


Ruínas da Fortaleza de Shaizar e Monte Qasioun, na Síria

sábado, 10 de fevereiro de 2018

“Já havia muito tempo que essas duas irmãs, essas duas metades da humanidade, a Europa e a Ásia, a religião cristã e a muçulmana, tinham-se perdido de vista, quando foram postas face a face pela Cruzada e olharam uma para a outra. O primeiro olhar foi de horror”.
(Jules Michelet, Histoire de France)

Abaixo: Ilustração de uma batalha entre cristãos e muçulmanos.
Autor desconhecido.
Ricardo, Coração de Leão, e as leis relativas aos cruzados (1189)

Ricardo I (1157-1189), cognominado “Coração de Leão”, foi coroado em 1189 e, em todos os sentidos possíveis, teve um breve reinado. Impetuoso e idealista, o novo rei logo se lança vigorosamente às Cruzadas, deixando seu país durante longas temporadas sob a administração de seu conselho real. Entretanto, sabe-se que ele não resistiria ao fatídico ferimento sofrido no ardor de uma batalha travada em território francês, evento este que abre o caminho para a conturbada ascensão de seu irmão João, posteriormente chamado de “Sem Terra”.
Logo no primeiro ano de seu reinado, Ricardo I e seu conselho Real definiram conjuntamente um regulamento que tinha por objeto o direcionamento do cotidiano dos cruzados em sua longa jornada por mar para alcançar Jerusalém (Laws of Richard I (Coeur de Lion) Concerning Crusaders Who Were to Go By Sea, 1189). Em face do contexto e das novas realidades jurídicas interpostas pela longa viajem nos navios, foram estabelecidas regras de direito criminal para disciplinar as relações entre os marinheiros.
As penas previstas para os crimes cometidos a bordo das embarcações eram, ao mesmo tempo, cruéis e curiosas. Destarte, os assassinos seriam amarrados ao cadáver e jogados no oceano. Todavia, se o homicídio tivesse sido praticado em terra firme, previa-se a incineração do infrator. Em se tratando de lesões corporais graves, consideradas pela lei de Ricardo como aquelas que acarretavam “derramamento de sangue”, a amputação da mão seria a punição maior destinada aos transgressores. Uma lesão leve, entretanto, condicionava, três vezes seguidas, o lançamento do criminoso ao mar. A injúria associada à calúnia resultava no pagamento de uma pena pecuniária (em prata), que seria calculada pela quantidade de ofensas dirigidas ao companheiro.
Os ladrões, a seu turno, seriam submetidos a uma série de castigos corporais que tinham por objetivo causar dor, sofrimento e extrema vexação. Para  tanto, inicialmente,  a cabeça do indivíduo era raspada, como forma de impor-lhe humilhação. Depois derramava-se sobre a calva água fervente. Por último, obrigava-se a pessoa a usar adornos específicos, para que fosse de conhecimento público o crime por ela cometido, sendo esta logo abandonada à sua sorte na primeira praia em que o navio viesse a atracar.

Rodrigo Freitas Palma - História do Direito, páginas 260-261